Fronteiras invisíveis, horizontes infinitos
- QAFF Fundation
- 22 de jul.
- 2 min de leitura
Seja mais do que um simples hóspede. Junte-se a um movimento.

Em setembro passado, ao cair da noite no Malecón de Quibdó, a luz dourada das lanternas dançava sobre o rio Atrato e, com ela, os fachos de filme de 35 milímetros ganhavam vida em uma tela improvisada. Aqueles quadros luminosos continham mais do que imagens: continham séculos de histórias: o murmúrio das raízes do baobá farfalhando ao vento colonial, a cadência suave da marimba nos pátios das catedrais e a batida inabalável dos sonhos da diáspora. Naquele brilho, um milagre ocorreu: uma fronteira antes invisível se dissolveu e uma comunidade inteira exalou um sentimento coletivo de admiração.
O Festival de Cinema Africano de Quibdó, agora em sua sétima edição sob o tema "Fronteiras Invisíveis", tornou-se discretamente o evento cinematográfico mais cativante do mundo. Aqui, a textura do celuloide é a de uma memória viva; cada imagem testemunha um povo que, apesar do apagamento, da migração e da lenta violência do esquecimento, se recusa a ser considerado meros sujeitos da história. Pelo contrário, brilha como protagonista do seu próprio futuro.
Em essência, o festival é um manifesto escrito em luz. Ele afirma que o cinema não deve ser um espetáculo passivo, mas um veículo vivo de sabedoria ancestral e audácia moderna. Em oficinas introdutórias de cinema para celulares para adolescentes, em cineclubes noturnos que reúnem adultos e crianças, e em diálogos pós-exibição que abrem as feridas muitas vezes silenciosas da exclusão, Quibdó afirma que a arte é a forma mais contagiosa de esperança.
Imagine um futuro onde cada margem de rio abriga um projetor, onde cada telhado é um terraço para histórias compartilhadas. Nessa visão, paredes, tanto reais quanto metafóricas, se tornariam obsoletas pelo simples ato de serem testemunhas delas. Um curta de animação sobre o rito de passagem de uma criança na savana se fundiria, em sua força, com um documentário intimista sobre os rituais de uma avó na costa do Pacífico. Ambos são iluminados, igualmente essenciais, em uma tapeçaria cinematográfica global que honra cada fio.
Mas não reduzamos este festival a mero romantismo. O Quibdó também é um caldeirão de inovação: cineastas experimentam imagens de drones para mapear manguezais escondidos, artistas sonoros capturam o ritmo de mercados lotados e ativistas projetam imagens históricas em muros municipais para exigir reparações. Aqui, a verdadeira magia reside na convergência entre criatividade e consciência, e no fato de a arte se tornar a linguagem da libertação coletiva.
Em um mundo cercado por fronteiras raciais, sociais e ideológicas recentemente reforçadas, o Festival de Cinema Africano de Quibdó se apresenta como uma contracorrente, um convite a repensar nosso futuro comum. Declara, com eloquência unânime: "Tragam suas histórias, suas perguntas, suas aspirações sem resposta. Temos espaço suficiente para todos." E nessa generosidade, vislumbramos o que o cinema pode se tornar: não um espelho refletindo a realidade, mas uma tocha erguida diante de nós, iluminando os caminhos para um futuro mais justo e inclusivo.
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